quarta-feira, 15 de agosto de 2007

De catalizadores à limitadores

A partir da segunda metade da década de 1980 — e podemos estabelecer o lançamento do Macintosh, em 1984, como o marco desta fase — os computadores pessoais se espalharam pelo mundo. O que antes era uma máquina voltada aos programadores, engenheiros e àqueles que tinham conhecimento de informática, tornou-se, e graças em muito à interface gráfica — GUI —, uma ferramenta acessível a uma parcela bem maior da população mundial.

Com os computadores espalhados, a próxima etapa, que começou a aflorar em meados da década de 1990 — aproximadamente 10 anos depois —, foi conectá-los. A presença dos computadores, espalhados em diversos lares do mundo, foi um fator fundamental para a criação da rede mundial de computadores. Os computadores possibilitaram uma troca de informação em uma velocidade e em um nível ainda não experimentados. Diferente da comunicação da telefonia fixa e móvel.

Mais 10 anos se passaram e, nos dias atuais, os computadores, de catalizadores, estão se tornando limitadores.

Pois é, para entender melhor esta transformação, é necessário entender uma transformação anterior. Como coloca Manovich em seu livro The Language of New Media:

" No início da década [1990], o computador era amplamente compreendido como uma simulação de máquina de escrever, pincel ou régua para desenho, ou seja, uma ferramenta usada na produção de conteúdo cultural que, uma vez criado, seria armazenado e distribuído na mídia apropriada — página impressa, filmes, impressão fotográfica, gravação eletrônica. No fim da década, com o uso comum da internet, a imagem popular do computador não era mais apenas de uma ferramenta, mas também de uma máquina de mídia universal, que poderia ser usada não apenas para criar, mas para armazenar, distribuir e acessar todas as mídias"

Ou seja, o computador passou a incorporar a comunicação como uma de suas principais funções. Para mim, inclusive, utilizo a função de comunicação muito mais do que a de ferramenta — e olha que utilizo bastante como ferramenta.

E é aí que reside o problema. Quando a comunicação, no formato e potencial que o computador permite, é incorporada ao cotidiano, ter essa função fixa a um computador em uma mesa — desktop —, ligado através de um cabo de conexão com a internet, é um limitante. Acessar e-mail, verificar preço de produtos, acompanhar o noticiário, conversas com amigos, discussões de trabalho e outras várias atividades sociais não precisam e não devem estar limitados a um desktop, presos a uma sala, um quarto, um escritório.

Paralelamente, a telefonia móvel vem seguindo caminho contrário. O que antes era um aparelho utilizado para conversas remotas, agora cada vez mais tem funções computacionais, como citado por Howard Rheingold em seu livro Smart Mobs e em uma entrevista com Axel Meyer, chefe de design da Nokia mundial: "Em muitos casos o celular já substitui o PC".

Então, por um lado, temos uma ferramenta computacional ganhando status de aparelho comunicacional e, por outro lado, temos um aparelho comunicaional ganhando status de ferramenta computacional.
O que vem por aí? Origami, NokiaN800?

Para mim é só a ponta do iceberg.

Mais informações sobre esta história e afins sobre interfaces digitais podem ser encontradas na minha dissertação Arquitetura de interface. Análise de formas de organização da informação na interação entre pessoas e códigos. Para entender um pouco mais sobre a velocidade das mudanças, leiam A corrida para o Século XXI, de Nicolau Sevcenko.

Um comentário:

CM disse...

Oi Professor!! Estou adorando sua aula! bem melhor q as do semestre passado, eu ficava totalmente perdida....! Estou acompanhando o blog, devagarrr.... mas estou!!
Até quinta que vem!
Abraços!
Clarissa Gráfico 2.